Avaliação da suscetibilidade de Biomphalaria glabrata e cercárias de Schistosoma mansoni frente ao óleo resina de Copaifera multijuga Hayne

Abstract

Os hospedeiros intermediários do Schistosoma mansoni, única espécie de Schistosoma encontrada na América do Sul, são caramujos que pertencem ao gênero Biomphalaria e que apresentam grande importância na transmissão da esquistossomose. Esses animais contribuem para manter a prevalência da doença nos locais endêmicos, devido ao seu alto potencial reprodutivo e grande capacidade adaptativa. Dessa maneira, o controle populacional desses moluscos constitui uma estratégia eficaz para o combate à doença, principalmente quando associado a medidas de saneamento e tratamento da população parasitada. O uso de moluscicidas é o meio utilizado para realizar esse controle, sendo atualmente a niclosamida o único composto recomendado para essa finalidade. No entanto, características como falta de seletividade, pois também afeta organismos não-alvos, custo elevado e o desenvolvimento de resistência por parte dos caramujos, fez com que a pesquisa por novos moluscicidas de origem vegetal fossem intensificados, visto a variedade de atividades biológicas que os produtos naturais podem apresentar. O gênero Copaifera possui 72 espécies distribuídas nas regiões tropicais da América Latina e África do Sul. As árvores podem atingir uma altura de 25 a 40 metros e produzem um óleo resina formado de sesquiterpenos e diterpenos. Algumas propriedades encontradas em espécies do gênero Copaifera se destacam, como anti-inflamatórias, antibacterianas, antifúngicas, atividade antileishmanial e antimalárica, porém nenhuma atividade moluscicida foi apresentada na literatura até o momento. Diante disso, esse estudo avaliou a toxicidade do óleo resina de Copaifera multijuga Hayne (ORCM) sobre adultos e embriões de Biomphalaria glabrata, cercárias de Schistosoma mansoni e Artemia salina. Estes foram expostos durante 24 h ao ORCM solubilizado em Tween 80 em diferentes concentrações, sendo de 400 a 4.000 μg/mL para os embriões, de 200 a 4.000 μg/mL para adultos e de 200 a 1.000 μg/mL para Artemia salina, já as cercárias de S. mansoni foram expostas por 2 h em concentrações de 100 a 1.000 μg/mL. Após sete dias, embriões em blástula apresentaram 85% de inviabilidade na concentração de 600 μg/mL com resultados semelhantes em gástrula com 800 μg/mL. O percentual de inviabilidade vista em trocófora na concentração de 2.000 μg/mL foi de 90%, enquanto em véliger foi necessária uma concentração de 3.000 μg/mL para inviabilizar 54% dos embriões. Os caramujos adultos nas concentrações 800, 1.000, 2.000, 3.000 e 4.000 apresentaram mortalidade de 40, 56, 86, 96 e 100% respectivamente. Na concentração de 500 μg/mL intensa alteração de motilidade das cercárias foi observado no primeiro intervalo (15 min), enquanto com 800 μg/mL todas estavam mortas. O ORCM demonstrou ser uma molécula eficaz no controle populacional da B. glabrata em diferentes estágios de vida do molusco, porém apresentou ecotoxicidade e o seu potencial uso deve ser focado e restrito.